Precaveja-se

No cume de uma montanha, morava um bode. Ele vivia isolado porque há 37 anos rogaram-lhe um feitiço para o resto de sua vida. Esse seria: falar cantando e tocando bandolim. E, para viver cantando, precisava se afastar, por isto morava em uma cabana.
O bode tinha sofrido muito durante sua vida, aprendeu bastante, e agora já estava bem mais esperto quanto a alguns imprevistos da vida. Ele tinha mania de se precaver.
Um novo morador das redondezas, um coelho, ouviu o som do bandolim do bode e resolveu ir até o local, de onde vinha o som. Chegando lá, ele tentou falar com o bode, mas o bode não parava de cantar. Furibundo, perguntou:

- Será que dá para parar de cantar um minutinho?

- Eu não consigo, bem que eu gostaria. Uma bruxa da montanha me enfeitiçou há trinta e sete anos e, se eu quiser falar, tenho que cantar - Respondeu o bode, cantando e tocando sua música estilo country.

O coelho era um indivíduo ambicioso e egoísta, já o bode não tinha grandes pretensões.
Com o tempo, o coelho percebeu o quão fácil seria iludir o bode, aproveitando sua sagacidade.

- Olá, vizinho! Por esses dias estava eu em minha casa te ouvindo e notei que você tem um grande potencial musical, em cima do qual poderíamos faturar um bom dinheiro!

- Ora! Mas como seria isso, meu caro? - Indagou o bode, cantando.

- Mas de que outra maneira? - Respondeu o coelho com um tom sarcástico. Poderíamos formar um dupla! Você toca seu bandolim e eu entro com a cantoria!

Como o bode tinha muito tempo ocioso, resolveu aceitar a proposta do coelho.
Quando o coelho percebeu que já havia conquistado a confiança do ingênuo bode, lançou sua condição:

- Façamos um acordo: você, com todo o seu potencial musical, realizará ambas as atividades, cantar e tocar, enquanto eu divulgo e promovo a dupla. Mas, como se sabe, dupla é um conjunto formado por dois elementos, portanto só dublarei sua cantoria. Temos um acordo?

O bode aceitou, contando que o coelho também se encarregasse da parte técnica. E assim fizeram muito sucesso com as músicas country, até que um dia o bode adoece e o coelho toma conta das atividades da dupla. Em uma entrevista, o coelho, sozinho, disse que faria uma confissão:

- O bode, na verdade, é somente um figurante, sou eu o verdadeiro astro!

Mais tarde, o bode soube da petulância do coelho, não deu para precaver essa. Decepcionado, queria provar para todos que aquele talento era seu, afinal a maior parte da sua vida passou escondido dos outro, por medo de como aceitariam seu modo cantado de viver. Agora, que tivera a oportunidade de demonstrá-lo, não podia deixá-la passar.
Assim que melhorou da sua doença, arrumou uma nova entrevista para a dupla. Era uma entrevista ao vivo em um programa de televisão, assim poderia mostrar mais facilmente que o coelho mentiu. No dia, já tinha precavido tudo, faria o coelho cantar ao vivo.
Foi um desastre, o coelho ficou muito envergonhado, mas não demonstrou isso na frente dos outros, fez como se estivesse brincando.
Daquele dia em diante, o coelho passou a pensar mais em seus atos e percebeu o quão mais fácil e digna seria a vida se ele deixasse de ser tão ambicioso e falso.

BÁI ANDRESSA SHREKLER GARCIA. créditos a Juliana Beriana
Ao som de I Got The Six - ZZ Top